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21 fevereiro 2010

Chove



O negro da noite nos teus olhos
Pretas nuvens que anunciam a chuva
Anunciam madrugada sem lua
E baldes d’água sobre o chão

12 fevereiro 2010

Significante (in)Sabedoria

Se ela soubesse o desentrelaçar das mãos
Os desvios do olhar
Os abandonos dos braços
O começar dos suspiros

Se ela imaginasse
Os cansaços e os sonos
Que se viriam com o tempo
Tornar-se-iam desespero

Se ela soubesse
Que a dúvida apazigua
Torna felizes os descrentes
E deixa morrerem à míngua
Os sobreviventes.

Se ela soubesse
Que ele se fez de contente
E que por não ter argumento
Não soube digerir
O que a ignorância tem de melhor

Se ela imaginasse
Que a vida é um exagero
Que se trabalha o ano inteiro
Não se tem o que se quer
Não se ama o que se tem
Não se realiza o que se sonha

Se ela soubesse
Que o humano não tem preço
Que a escada é sempre descida
A porta é sempre saída
E nada se prende a nós

Se ela imaginasse
Que a despedida é sempre o início
O vício é a fita do avesso
Que a cabeça encosta no travesseiro
E dormir é o suicídio

Se ela soubesse
Se ela imaginasse
Se ela vivesse
Se ela sonhasse
Talvez ela não mais dormisse.


11 fevereiro 2010

As paredes são testemunhas mudas



Das minhas dores mais azedinhas


Que param e ficam


Nos vértices de minh’alma


Elas olham, cantoneiras


Quando choro tão baixinho


E não há um só ladrilho


Que escape do meu lamento


Elas ouvem, sestrosas


Quando murmuro de mansinho


Que o que queria era carinho


E de minhas confidentes uma resposta.


Mas elas não sentem,


São de pedra, as danadas


E, por mais que a gente tente,


Delas nunca ouvimos sequer palavra.

05 fevereiro 2010

II

No escuro não consigo ver

O que não posso ultrapassar


O escuro é o futuro
E do futuro o que será?


No escuro crio escudo
Proteção de tudo contra


Não há idéias que esclareçam
Não há a que possa salvar


Meu coração agora é um barco vazio
Que não se
amarra
a coisa
alguma.

03 fevereiro 2010

Derretecências


Num chão derretente
a água parece verter
oásis n'asfalto.